Última modificación: 2018-01-27
Resumen
Continuamente desde a virada epistemológica dos anos 60 e 70, a Crítica Literária e a Literatura Comparada entendem a impossibilidade de apreender as manifestações culturais na América Latina por um saber tradicional, em narrativas lineares, únicas, totalizantes, inseridas em um modelo colonizador. Mais do que adotar e analisar novos fatos e paradigmas culturais, e tornar a “margem” em objeto de estudo, o problema parece cada vez mais se afunilar para as categorias epistêmicas utilizadas para apreender a realidade da periferia. Frente à necessidade de se construir uma crítica própria, um olhar “de dentro”, que dê conta da especificidade do nosso contexto e que, mais, exerça um papel político emancipador, este trabalho pretende uma leitura de A Invenção de Morel, de Adolfo Bioy Casares, atenta ao tempo da máquina de Morel como possível categoria para uma episteme latino-americana. Objetivamos, a partir de um estudo crítico desta obra e dos caminhos até ora percorridos pela Crítica Literária e pela Literatura Comparada na América Latina, especialmente em Cornejo Polar, Ana Pizarro, Antonio Candido, pensar, em uma abordagem bibliográfica comparativa e interpretativa, a crítica ao futuro como progresso como intrínseca à engajada experiência literária latino-americana. Partimos da hipótese de que a máquina de Morel não é uma sátira apenas sobre a condição humana, mas sobre a condição de uma cultura cingida por modelos (históricos, econômicos, estéticos) externos. Levantamos a hipótese do tempo passado circular e da ruptura com a noção de futuro como progresso, presentes na obra, como categorias epistêmicas para a compreensão da literatura produzida na América Latina. Procuramos, além de comprovar a atualidade da ficção de Bioy Casares, apontar caminhos para a fundação de um arcabouço teórico para uma crítica literária fundamentalmente latino-americana.