O presente estudo se propõe a discutir o problema do ‘especismo’ na sociedade contemporânea, constituindo-se como uma crítica aos sistemas ideológicos que procuram perpetuar práticas opressoras para com os animais não-humanos. Após quase cinco décadas de debates acerca da libertação animal e dos direitos dos animais, vislumbramos algumas mudanças nos âmbitos jurídico e moral que tangenciam as relações entre animais humanos e não-humanos. Foi possível, a partir disto, reivindicar os direitos morais de sujeitos que poderiam ser vistos como ‘auto-conscientes’ e plenamente ‘desejantes’. Nesta medida, a considerabilidade moral dos indivíduos não-humanos foi tomada como elemento central na arena da ética animal.

As perspectivas filosóficas da justiça e da política, contudo, não contemplavam as questões que são ainda propagadas acerca dos direitos fundamentais de animais não-humanos, uma vez que se apoiavam nas cláusulas pétreas dos direitos civis e do pacto social entre indivíduos humanos e racionais. Sobre este aspecto, procura-se ainda transpor o paradigma ético da igual consideração dos indivíduos para a esfera política que visa à integração das pautas sobre os animais não-humanos, às pautas jurídicas e sociais. Desta forma, se pretende questionar os fundamentos da tradição moral que permeiam as práticas especistas em nossa cultura até os dias atuais e que destituem o caráter legítimo dos interesses fundamentais de animais não-humanos.

A questão tratada será debatida à luz das principais vertentes da ética animal e ambiental, invocando os argumentos apresentados por Peter Singer em sua obra “Libertação Animal” no que tange às práticas especistas difundidas nas diversas culturas. A abordagem moral das práticas especistas nos leva, portanto, ao modo de questionar sobre quais são os valores que legitimamos cotidianamente em nossas práticas e de que modo podemos superá-los enquanto cidadãos imersos nesses sistemas culturais e políticos.