O processo de rememoração de acontecimentos vivenciados na infância traz à tona a perspectiva da ressignificação de experiências que por vezes expressam sentimentos de encantos e desencantos. Sobre essa perspectiva é que esta investigação se declina tendo como objeto o conto de Clarice Lispector, Restos do Carnaval, nele a personagem pueril evoca momentos de suas angústias de viver entre o sentimento da morte e a vontade de viver as fantasias carnavalescas em Recife. Diante disto, o objetivo deste artigo é analisar os processos de encantamento e desencantamento por meio das rememorações da personagem infantil no texto literário. Para tanto, o suporte teórico se assenta nas discussões de Eurídice Figueiredo (2013) sobre memória e os relatos de infância, as ponderações de Paul Ricoeur (2007) acerca das memórias corporais e os estudos de Seligmann-Silva (2008) sobre rememorações traumáticas. As análises permitiram observar que por meio das reconstruções memoriais ora a criança se encanta com a possibilidade de participar das festividades carnavalescas, tão desejadas por ela, ora se desencanta com a ameaça da morte de sua mãe, expressando assim as suas angústias significadas na fase adulta.