Última modificación: 2018-11-27
Resumen
Esta comunicação é fruto de uma pesquisa que tem por objetivo central analisar as contracondutas das personagens femininas da escritora brasileira Júlia Lopes de Almeida. Nascida em 1862, no Rio de Janeiro, e falecida na mesma cidade, em 1934, essa autora retrata, em suas mais de trinta obras publicadas, o mundo feminino e a vida privada, abordando temas como o casamento, a maternidade, o adultério, a sexualidade e a violência de gênero, entre outros. Também trata, ainda que em segundo plano, de questões do momento histórico em que vivia, como o abolicionismo, a proclamação da República e a reforma urbana carioca. No caso desta pesquisa, tenho por foco dois de seus romances: A viúva Simões (1897) e Cruel Amor (1911). A primeira história diz respeito a uma viúva da elite carioca que, reencontrando um amor da adolescência, disputa com a filha pelo seu coração. Nesse sentido, a exemplar mãe e dona-de-casa Ernestina passa a abdicar à vida recatada do luto e a enxergar a filha como competidora. Já o segundo romance trata de dois triângulos amorosos que se passam concomitantemente em um bairro de pescadores do Rio de Janeiro. Ao longo do enredo, as duas personagens femininas centrais tentam fugir de relações abusivas, passando por violências simbólicas e físicas. No caso, Júlia tece uma crítica à possessividade masculina em relação às mulheres e à tentativa de imposição de modos de vida que não contemplam suas multiplicidades. Inspirada por teóricas feministas e por Michel Foucault, busco entender como, no imaginário dessa autora, essas mulheres se revoltam contra as tentativas de controle sobre seus corpos, promovidas pelos discursos médicos e jurídicos do século XIX e início do século XX, no Brasil, mas que nasciam já no século XVIII, na Europa. Nesse sentido, me utilizo do conceito foucaultiano de contracondutas, que se refere às revoltas dos indivíduos para com a tentativa de governo sobre eles e a condução de suas condutas, isto é, trata-se da busca por outras formas de conduzir a si mesmos além da conduta normativa.