Última modificación: 2018-02-11
Resumen
Desde 2003, quando aparece pela primeira vez nas bancas argentinas, a revista Barcelona tensiona um certo modo de concepção e de consumo do jornalismo. Isso porque o periodismo está fortemente ancorado por um regime de familiaridade, cujos princípios formais, a revista pretende desestabilizar. Tal enfrentamento gera inflexões interessantes, já que como aponta Leal (2002), a familiaridade é decisiva para que o real ofertado pelo jornal tradicional possa ser tomado como verdadeiro por parte de seus leitores. É a partir daí que temos a conformação de uma verbovisualidade típica, canônica, que deixa perceber certos esquemas que fazem parte do jogo de sedução entre leitores e veículos, cuja confiança e os critérios de verdade também dependem do compartilhamento de certos modos de presença. Visto isso, nos perguntamos que imbricamentos surgem de uma publicação que tenta quebrar essa expectativa e familiaridade para propor novas cadeias de sentido? Como forma de respondermos a essa indagação, ainda de que forma parcial, o que pretendemos nesse artigo é analisar algumas das narrativas produzidas por Barcelona para percebermos como ela utiliza técnicas do próprio jornalismo para subvertê-lo. Para isso, partiremos do conceito de tradicionalidade de Paul Ricoeur (1994), buscando compreender os processos de sedimentação e inovação que compõem os modos pelos quais a revista configura suas realidades. O conceito nos parece profícuo, tendo vista que deixa entrever que jamais estamos numa posição absoluta de inovadores, mas que sempre partimos da condição relativa de herdeiros. E isso é decisivo para entendermos o caráter inventivo de Barcelona em relação à tradição jornalística, já que é de algum grau de "servidão" ao jornalismo tradicional que ela estabelece seu desvio. Ou seja, é entendendo as orientações da composição narrativa do jornalismo tradicional, que a revista engendra relações que o interpela.