Última modificación: 2019-05-15
Resumen
O estoicismo ocupa um lugar cativo entre as filosofias que foram predominantes na formação intelectual do mundo greco-romano. Desde o surgimento no contexto histórico do helenismo, os primeiros representantes dessa escola criaram uma base sólida, que perseverou enquanto uma das referências filosóficas mais influentes para a cultura ocidental. Durante muito tempo, no seio do Império Romano, o estoicismo desfrutou de um prestígio incomensurável em meio a literatura e a política romana. É surpreendente reconhecer a importância do estoicismo no interior do sistema político da Roma antiga e constatar que essa filosofia surgiu a partir dos ensinamentos de Crates, um pensador cínico sem muita expressão e pouco reconhecido, que foi mestre de Zenão e inspirou, portanto, os primeiros passos do precursor dos estoicos. Como poderia o cinismo ter originado uma filosofia dessa magnitude e se tornado guia para senadores e imperadores do maior império do Ocidente? O cinismo se baseia em uma contraposição absoluta que distingue os elementos da vida humana entre o que é natural (physis) e o que é convenção (nomos). Os cínicos desprezam todos os artifícios que são produzidos pelo homem para a vida em comunidade, sejam eles as leis e a moral ou a arte e a cultura. Esse foi o ponto de divisão entre as duas correntes filosóficas, pois no estoicismo o poder de organização coletiva do homem passa a ser entendido como algo natural que espelha a harmonia do cosmos, as leis e a vida em sociedade são compreendidas como uma expressão natural que reflete a essência da natureza humana. Marco Aurélio, que ocupou a notória posição de imperador romano, aderiu ao estoicismo e seguiu os princípios éticos dessa escola como modelo para sua vida. Nas Meditações observamos um filósofo extremamente dedicado ao estoicismo, que exercita assiduamente os preceitos filosóficos, em uma tentativa de repensar a sua atuação política. O estoicismo defende a concepção de que a consciência humana é inatingível às impressões do mundo exterior. Tudo aquilo que julgamos bom ou mal advém de um julgamento interior, do modo como lidamos com as coisas e não como os sentidos e a imaginação representam a realidade. Na ética estoica há uma preocupação fundamental com a glória, a riqueza e o poder. Marco Aurélio absorve esses ensinamentos e compreende que o desejo por essas coisas é o que há de mais nocivo para a saúde de um governante. Para se tornar um governante virtuoso é preciso, sobretudo, ser indiferente aos prazeres, não ser seduzido pelos privilégios oriundos do poder e pautar suas ações sempre com o propósito de submeter a vontade individual ao bem moral e coletivo. Marco Aurélio certamente é um exemplo único na história, de como a filosofia pode ser uma aliada imprescindível para nortear as ações políticas de um governante. Nesta apresentação realizarei uma interpretação das Meditações, com o objetivo de demonstrar como o modelo de sabedoria da filosofia estoica foi determinante para o êxito da liderança política de Marco Aurélio.