Última modificación: 2018-11-27
Resumen
De acordo com Foucault (2006a), vivemos a “era da governamentalidade” em que táticas contemporâneas de governamento são utilizadas para “conduzir as condutas” dos sujeitos individuais e coletivos, entre eles adolescentes e jovens em processo de escolarização. Esse processo de governamentalidade visa transformar os indivíduos em cidadãos, num processo de regulação moral de si próprios e dos outros, pois “os cidadãos moldam suas vidas através das escolhas que fazem sobre a vida familiar, o trabalho, o lazer, o estilo de vida, bem como a personalidade e sua expressão” (ROSE, 1998, p. 43). Este trabalho apresenta alguns resultados de pesquisa de doutorado que teve como objeto de estudo as práticas de governamentalidade da sexualidade no Programa Vale Juventude desenvolvido por meio de parcerias público-privado. O objetivo foi problematizar como tais práticas são construídas no âmbito do currículo do Programa Vale Juventude. Para empreender essa análise acionamos alguns conceitos da metodologia pensada pelo filósofo francês Michel Foucault, sobretudo da genealogia para pensar a sexualidade como dispositivo histórico governamentalizável, disciplinado individualmente e administrado a nível populacional. Para tal analisamos os documentos produzidos pela Fundação Vale e Instituto Aliança parceiros na efetivação do referido Programa. A ideia construída é que o Programa por meio de uma série discursiva ampla e complexa articula no seu currículo “sexualidade, saúde e convivência”, produzindo formas de normatividades que visam constituir determinados tipos de jovens, sobretudo a partir da ideia de protagonismo juvenil em que sexualidade e saúde são articuladas para promover formas de controle individual e coletivo dos jovens, constituindo o que Foucault denominou de “colonização pedagógica da juventude”. Para tal o Programa Vale Juventude aciona “metodologias” pautadas na escola ativa, que busca constituir o jovem autônomo, “emponderado”, que se sente corresponsável por sua formação e de seus pares, outros jovens. A sexualidade dos jovens é submetida a “procedimentos de gestão governamental” por meio de parceria público-privada tanto no planejamento, elaboração, desenvolvimento e avaliação das Oficinas Educativas do Programa Vale Juventude, mas também a sexualidade é dimensionada paradoxalmente no cruzamento público-privado, sobretudo articulada à questão da “sexualidade saudável”, que precisa ser exposta para ser “confiável”, deve desviar dos “riscos” e assumir a “segurança” como pressuposto da experiência sexual.