Última modificación: 2019-11-21
Resumen
Este estudo problematiza a representação da violência doméstica contra a mulher na literatura contemporânea. Conforme Denise Jodelet, a cultura é a categoria que proporciona a matéria-prima para a construção das representações e é, também, a cultura que constitui o espaço onde circulam as representações sociais, consequentemente, as produções literárias representam o tema aqui em consideração, estimuladas pelas ações violentas contra a mulher encontradas na ordem social. Dessa forma, analisar-se-á o conto “A cabeleireira” (2007), da escritora portuguesa Inês Pedrosa, com o objetivo de refletirmos a respeito de como a personagem “esposa espancada” é representada na narrativa contemporânea e também de como se dão as seguintes representações: a do corpo agredido dessa mulher, a de suas identidades, principalmente a de “mulher agredida”, a fim de verificar se, no decorrer da narrativa, por intermédio da resistência dessa personagem (ou não), em relação às agressões sofridas, essas identidades são alteradas, e a da dinâmica de tal violência contra a mulher no espaço privado. Tais aspectos serão observados por meio da Teoria da Representação, utilizando um método comparativo descritivo, sob o viés dos estudos feministas e de gênero. Além disso, tomando como referência os conceitos de biopolítica, de Michel Foucault, de vida nua e homo sacer, de Giorgio Agamben, e a noção de vida precária, de Judith Butler, observar-se-á a possibilidade de pensar as mulheres, em situação de violência doméstica, como “vidas matáveis”, as quais não são social e politicamente passíveis de luto, já que estão expostas à violência patriarcal, a qual é muitas vezes legitimada pela sociedade, e, por não terem uma proteção jurídica eficiente do Estado, prevalece, para os agressores, a impunidade, naturalizando, assim, a violência contra a mulher.